Na noite de ontem, o futebol não foi apenas jogado. Ele foi escrito com tintas eternas na pele do tempo. Não era uma terça, nem uma quinta-feira qualquer — era o tipo de noite que nasce prometendo virar lenda. Em algum canto invisível do destino, o Botafogo preparava seu poema mais corajoso: derrotar o Paris Saint-Germain em pleno solo internacional, diante do mundo inteiro, na Copa do Mundo de Clubes.
O palco era dourado. O estádio iluminado como um templo moderno. Os olhos do planeta estavam voltados para o confronto que, à primeira vista, parecia desigual: de um lado, os astros do PSG — milionários de chuteiras reluzentes, o peso da mídia e da grife europeia. Do outro, o velho Botafogo, esse clube que carrega em sua alma a mistura exata de saudade, garra e poesia.
Mas ontem, o improvável não só aconteceu — ele se impôs com a beleza dos romances que vencem todas as guerras.
Aos trinta e seis minutos do primeiro tempo, quando o placar ainda teimava no 0 a 0 e a torcida alvinegra cantava como se fosse ela a mover os pés dos jogadores, veio o momento que mudaria a história. Bastou um passe milimétrico do Savarino , uma arrancada de gênio e um chute que parecia vir não do pé, mas do coração de um camisa 99 alvinegro iluminado. A bola beijou a rede como quem sela um amor eterno.
Botafogo 1 , PSG 0.
O mundo parou. O silêncio elegante da torcida francesa foi engolido pelo grito rouco dos brasileiros que atravessaram oceanos ou acenderam rádios antigos só para ouvir esse momento. Do outro lado da tela, no subúrbio do Rio ou num boteco em Lisboa, o torcedor alvinegro chorava. Era um choro que limpava anos, décadas de quase, de dores e esperas.
O Botafogo não venceu apenas um jogo.
Ele venceu o rótulo de coadjuvante.
Venceu o dinheiro, venceu o desdém, venceu o destino que tantas vezes lhe foi cruel. Ontem, o Botafogo olhou para a história e disse: “Agora, escreve meu nome direito. Em maiúsculas. Com letra de ouro.”
Ao final da partida, o céu parecia mais escuro, mas não de tristeza — e sim alvinegro de glória. Os jogadores ajoelhados no gramado, como cavaleiros que, após a batalha, agradecem aos deuses por sobreviver com honra. Os olhos brilhavam não só pelo suor, mas por saberem que, dali em diante, ninguém mais poderia negar: o Botafogo é imortal.
Em tempos tão áridos de poesia, ontem o futebol foi romance.
E o herói dessa história — como todo bom herói — vestia preto e branco.
Lucius Magliano